segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Og: o Rei dos Gigantes

Essa história é baseada no livro “Jewish Fairy Tales and Legends”, de autoria de Gertrude Landa. Abaixo eu vou recontar essa história a meu modo, baseando-me no livro acima citado. É uma história muito boa, creio que as crianças vão gostar bastante.

Conta-se que nos dias anteriores ao Grande Dilúvio, Noé começou a observar os animais e a selecioná-los. Ele já havia separado o alimento necessário para sua família e os animais. Separou também sementes, para que a terra pudesse florescer novamente quando as águas baixassem.
Entretanto, Noé estava preocupado com uma coisa. Ele ainda não havia encontrado um unicórnio pra levar na Arca. E era muito importante que os unicórnios fossem salvos. Um dia ele estava falando sozinho perto da floresta.

-“Onde será que eu vou encontrar um unicórnio? Daqui alguns dias o Grande Dilúvio chegará, e eu ainda não encontrei nenhum!” Pra espanto de Noé, uma voz forte como a de um trovão soou do canto mais escuro da floresta.
- “Noé, Noé, eu posso encontrar um unicórnio pra você.” Era o temível Og, o gigante. “Mas em contrapartida, se eu lhe trazer um unicórnio, você terá que me salvar da Inundação. Essa é a minha condição”.
                - “Afasta-te de mim, criatura maldita”, gritou Noé. “Eu não vou fazer nenhum trato com você. O seu destino é morrer no Dilúvio”.
                - “Mas Nóe”, choramingou o pobre gigante – imagine um gigante choramingar! – “tenha pena de mim. Veja, eu estou até mesmo encolhendo, diminuindo de tamanho. Antes eu era bem mais forte. Eu podia fritar peixes no sol e beber água das nuvens. Mas agora, está tudo muito mais difícil”.
                - “Vá embora, criatura maldita. Eu não tenho nada a tratar com você”.

Passado um tempo, Noé levou um baita de um susto: não é que Og, o gigante, lhe trouxe mesmo unicórnio? Mas não era qualquer unicórnio. Era um grande como uma montanha! O unicórnio chegou e se deitou diante da Arca. O que Noé iria fazer? Ele sabia que precisava salvar aquele animal.

O unicórnio não caberia dentro da Arca. Noé então passou um tempo pensando e teve uma boa ideia: ele amarraria uma corda ao chifre do unicórnio e a outra ponta à Arca. Assim, o animal poderia seguir nadando ao lado da Arca e ele alimentaria o animal pela abertura da janela. Pronto, problema resolvido!

E assim Noé fez. Quando ele acabou os últimos ajustes ali, a chuva começou a cair. Og, bastante atento, se sentou em uma montanha ali perto. Ficou observando a água subir, os rios transbordarem e tudo ser coberto de água. A Arca foi então se elevando nas águas e o unicórnio começou a nadar ao lado da Arca. Quando a Arca passou ali perto de onde Og estava, ele rapidamente montou nos lombos do unicórnio!

                – “Viu, Noé, agora você terá que me salvar” – disse Og, com um sorriso maroto entre os dentes –   “Eu vou comer toda a comida que você der ao unicórnio!”

Og em cima do Unicórnio. Fonte: "Jewish
Tales and Legends", pág. 26
Noé sabia que não poderia argumentar com Og. Og poderia até mesmo querer afundar a Arca, usando sua força. Assim, Noé lhe fez um proposta. Se Og prometesse que iria servir os humanos descendentes de Noé, Noé alimentaria Og durante todo o Dilúvio. Og estava faminto naquele momento. Então, ele aceitou o acordo e devorou rapidamente o primeiro café-da-manhã que Noé lhe oferecera.

A chuva caia com tanta intensidade que a luz do dia desapareceu. Entretanto, dentro da Arca havia luzes belíssimas: Noé havia coletado lindas pedras preciosas, e as usou como janelas. Delas irradiava uma luz que iluminava todas as parte da Arca. Infelizmente, Noé teve alguns problemas com os animais. Ele sequer conseguia dormir. O Leão teve um ataque de febre muito forte, os macacos faziam macacadas e a Fênix só queria saber de dormir.  

                - “Acorde, pássaro! Está na hora de comer” – disse Noé à Fênix.
                - “Não se preocupe comigo, Pai Noé. Eu percebo que muitos animais estão te dando muito trabalho, então vou lhe dar nenhum”.
                - “Poxa...” – disse Noé tocado pela sensibilidade do pássaro – “por conta disso eu te abençoo e digo que nunca morrerás!”

Um dia, a chuva parou de cair e o sol apareceu novamente. Noé olhava para fora, mas estava entristecido. Ele via apenas um vasto oceano que cobria tudo. Ao longe, podia ver as partes mais altas de alguns montes aqui e acolá. Era muito triste pra ele ver o mundo inteiro submerso. Og, em contra partida, estava muito feliz.

                - “Ha, ha, ha!” – disse ele numa terrível risada de gigante – “Agora irei dominar sobre todas as criaturas. Eu vou dominar sobre todos esses mortais insignificantes!“
                - “Não tenha tanta certeza disso, Og. Esses seres mortais irão um dia dominar e exterminar toda a raça dos gigantes e criaturas malditas.”

Og não gostou nada do que Noé havia dito. Ele sabia que tudo que Noé profetizava se tornava realidade. Ele ficou tão triste com isso que não comeu nada por dois dias seguidos. Assim, ele encolheu mais ainda de tamanho. Quanto mais as águas baixavam, mais ele ficava triste. Um dia, a Arca parou em cima do monte Ararat. Logo, logo seria possível que todos finalmente saíssem de dentro da Arca: eles passaram quase um ano inteiro lá dentro!

                - “Em breve eu irei lhe deixar, Noé. Quero andar pelo mundo, e ver o que sobrou dele.”
                - “Não será assim, Og. Você só pode sair de perto de mim se eu deixar que isso ocorra. Você se esqueceu que prometeu ser meu servo? Eu tenho bastante trabalho pra você executar!”

Og ficou choramingando o dia inteiro. Ele era um gigante muito preguiçoso. Quando ele viu a terra seca apareceu, ele derramou lágrimas amargas, pois sabia que um árduo trabalho lhe esperava.

                - “Pare de chorar, Og” – disse Noé. “Você quer afundar o mundo novamente com essas lágrimas enormes de gigante?”

Og então se sentou em um canto e ficou observando os animais saírem da Arca. Ele estava muito, muito triste. Quando os filhos de Noé começaram a construir casas, todo o trabalho pesado ficava nas costas de Og. Cada dia que passava ele diminuía mais de tamanho. Noé lhe disse que ele teria que comer menos, pois não havia tanta comida assim. Og estava triste em pensar que ele ficaria do tamanho dos mortais em algum tempo.

Um belo dia, Noé disse a Og:

                - “Venha comigo, Og. Eu devo andar pelo mundo, plantar árvores e flores, deixar essa terra bonita. Eu preciso da sua ajuda.“
                - “Ufa, até que enfim vou ver lugares diferentes. Não aguento mais ficar apenas nessa aldeia.”
Ambos seguiram caminho, visitando os mais diferentes lugares. Og tinha o dever de levar todos os pesados sacos de sementes. A última planta que Noé plantou foi a videira.
                - “O que é isso?” – perguntou Og. “Esses frutos servem pra comer ou para beber?”
                - “Servem pras duas coisas, Og. As pessoas podem comer as uvas ou beber o vinho que é preparado de seu suco”.
Noé então fez uma benção para aquela planta:
                - “Que você seja uma planta de frutos belos aos olhos. Que seus frutos alimentem os famintos e que você produza uma bebida para o deleite da alma de cansados e doentes.”
Og também quis fazer uma benção pra nova planta. Ele pediu autorização a Noé e ele lhe autorizou. Og disse então:
                - “Se um homem beber apenas algumas gotas de vinho, ele ficará manso como um cordeiro. Se beber um pouco mais, se sentirá forte como um leão. Se ele beber ainda mais, ficará como uma besta semelhante ao porco. Se insistir ainda mais, ficará estúpido como um macaco.”

E é por isso que até hoje se um homem bebe muito vinho que ele fica tolo. Og mesmo bebeu quantidades absurdas de vinho. Muitos anos depois, ele se tornou servo do Patriarca Abraão. Conta-se que um dia, Og ficou com tanto medo de Abraão que caiu um dente de sua boca! Abraão pegou esse dente e fez pra si uma bela cadeira! Tempos depois, Og se tornou o rei de Bashan. Ele se esqueceu do trato que fizera com Noé tempos antes. Ele passou a não cuidar mais da vida humana. Inclusive, ele se recusou a ajudar os israelitas a entrar na Terra Prometida.

                - “Se eu quiser, eu posso matar todo esse povo de uma vez só!” – bradava o gigante.

Og ergueu uma montanha acima de sua cabeça e pretendia joga-la em cima do acampamento israelita, matando a todos de uma só vez. O que ele não imaginava era que as formigas, gafanhotos e minhocas que ali viviam tinham cavado vários túneis na montanha. Quando ele a ergueu, ela se desmanchou acima dele. Ele caiu ao chão, preso àquela massa enorme de terra, e não conseguia se soltar. Moisés aproveitou a situação e correu até lá com uma espada. Corajosamente, Moisés fincou mortalmente a espada no calcanhar de Og. Por ele estar se agitando muito para escapar da montanha que estava em cima de sua cabeça, Og começou a perder muito, mas muito sangue e acabou morrendo. Essa foi a punição que ele recebeu por ter quebrado a promessa que ele havia feito a Noé.

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