Essa história é baseada no livro “Jewish Fairy
Tales and Legends”, da autora Gertrude Landa. Abaixo eu vou recontar essa
história a meu modo, baseando-me em diversas ideias do livro acima citado.
Quero deixar claro que essa história não é de minha autoria. É uma história
muito linda, creio que as crianças vão gostar bastante.
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Sapo mágico. Fonte: Google Images |
Muito tempo atrás existia um homem que era muito
sábio e muito rico. Ele era dono de muitas propriedades na terra em que
habitava. Possuía muitos servos e servas, muitos animais além de uma enorme
lavoura. Esse homem tinha apenas um filho, e seu nome era Hanina. Hanina era
adulto e casado quando essa historia que irei lhes contar se passa.
Certo dia, o
homem rico e sua esposa ficaram bastante doentes. De uma doença muito grave e
eles sabiam que logo iriam morrer. Um mensageiro foi até Hanina avisar que seus
pais logo morreriam. Hanina deixou tudo o que estava fazendo e foi rapidamente
encontrar seus pais. Logo chegou na casa deles e ficou muito triste em ver os
dois acamados.
- Hanina, meu
filho! Entre aqui... – disse o pai entre gemidos.
- Oh, meu pai!
Que situação triste... – disse Hanina com os olhos cheios de lágrimas.
- Meu filho, meu
filho. Não se aflija tanto assim. Sua mãe e eu vivemos anos muito agradáveis
juntos. Será uma honra pra nós partimos desse mundo juntos...
- É verdade, meu
filho – disse carinhosamente a mãe.
- Meu filho, -
disse o pai – depois que nós morrermos, fique de luto normalmente, fique sete
dias de luto. O seu luto por nós acabará na véspera de Pessach! Nesse dia, vá
até o Mercado da cidade e compre a primeira coisa que te oferecerem lá. Não
importa o que seja e não importa qual seja o preço: compre a primeira coisa que
te oferecerem de qualquer forma. Escute atentamente o que eu te digo, meu
filho, e tudo irá bem.
Hanina prometeu cumprir o estranho pedido de seu
pai. Tudo aconteceu como o homem idoso havia previsto: ele e sua esposa
faleceram no mesmo dia. Hanina sentou-se em luto por sete dias, e esse acabou
na véspera de Pessach. Nesse preciso dia, Hanina foi até o Mercado, ansioso em
saber o que lhe aguardava.
Ao chegar ali, foi um homem idoso que primeiro se
aproximou dele. Ele carregava uma espécie cesto de prata de formato bastante
estranho. Ele se aproximou rapidamente de Hanina e lhe disse:
- Meu senhor, eu lhe proponho que compres este
cesto!
- Hum, que interessante – disse Hanina – mas o que
é que tem dentro dele?
- Meu senhor, eu não faço ideia do que seja, pois
eu não o abri. Apenas quem comprar o cesto irá descobrir seu maravilhoso
conteúdo.
- E quanto o senhor deseja receber por ele?
- Eu quero mil peças de ouro...
Esse preço era realmente muito caro. Era
praticamente todo o dinheiro que Hanina havia levado ao Mercado, e ele só levou
essa quantidade de dinheiro porque era muito rico. Não fosse isso, não teria o
valor ali. Embora fosse muito caro ele comprou, visava cumprir o voto que
fizera ao seu falecido pai. Sabemos que em nossa cultura, cumprir uma promessa
feita a um falecido é muito importante! Hanina pegou o cesto e o levou pra
casa.
O cesto foi colocado em cima da mesa da refeição de
Pessach. Ao ser aberto, observou-se que o cesto continha um cesto menor dentro
dele. Ao abrir o cestinho, havia dentro dele um sapo!
A esposa de Hanina ficou muito desapontada. Ela não
esperava ter encontrado um simples sapo dentro daquele cesto. Eu acho que ela
estava sonhando com colares e brincos de pedras preciosas. Apesar de triste com
a descoberta, ela cuidou muito bem do sapo. Deu comida a ele e, embora pequeno,
ele devorou tudo gulosamente. Comeu tanta nos oito dias de Matzo que começou a
crescer bastante e ficou com um tamanho enorme! Hanina fez até um barracão pra
esconder a estranha criatura.
Os dias foram passando e Hanina começou a ficar
bastante intrigado. A criatura comia muito, muito mesmo. Parecia ser um saco
furado. Hanina continuou a alimenta-lo, sem se abater. Com o tempo, ele começou
a ter que vender seus pertences para alimentar o sapo. A fome do anfíbio ficou
tão intensa que Hanina teve que vender praticamente tudo, ficando em um estado
de lamentável pobreza. Sua esposa então perdeu toda a coragem, ficou muito
triste e começou a chorar. E ela levou um enorme susto quando o sapo, agora com
a altura de um homem, virou pra ela e disse:
- Me escute, esposa do fiel Hanina – disse o sapo –
vocês cuidaram muito bem de mim por todo esse tempo. Então peça-me agora o que
você quiser e eu lhe atenderei.
- Dê-me comida – solução a mulher.
- Aí está – disse o sapo. Quando ele acabou de
dizer isso, eles escutaram uma batida na porta. Quando chegaram lá, alguém
havia deixado uma enorme cesta de deliciosos alimentos pra eles.
Como Hanina ainda não havia dito nada, o sapo foi
até ele.
- Diga-me o que desejas, meu senhor, e eu o farei.
- Um sapo que fala e faz proezas deve ser com
certeza um sapo muito sábio. Eu desejo que você me ensine a Sabedoria dos
Homens – pediu Hanina.
O sapo concordou, mas os métodos didáticos dele
eram muito estranhos. Ele pegou 70 pedaços de papel e escreveu a Lei e as 70
línguas conhecidas neles. Ele disse que Hanina deveria engolir esses pedaços de
papel e assim foi feito. Magicamente, Hanina se tornou um homem muito sábio.
Ele passou a dominar todas as línguas existentes, até mesmo a língua das feras
e dos pássaros. Ele ficou conhecido como o ancião mais sábio do seu povo quando
se tornou mais idoso.
Passados alguns dias, o sapo disse a Hanina e sua
esposa:
- É chegado o dia de eu retribuir a vocês toda a
bondade que me fizeram. Peço que vocês me sigam até a floresta. Lá eu lhes
darei algo precioso.
Hanina e sua esposa seguiram o sapo até a floresta,
intrigados com o que estava por acontecer. Lembraram-se de todos os dias que
passaram com o sapo, de quando ele era apenas um sapinho pequenino e de como ele
cresceu. Lembraram de como foi difícil no início, de que tiveram que vender
praticamente tudo e ficar até mesmo pobres por amor ao sapo. Hanina sorria
discretamente, pois mais uma vez percebeu o quanto é bom que um filho obedeça e
honre seus pais.
Quando eles chegaram na floresta, depois de terem
passado por grandes árvores, pararam numa clareira natural. Era possível
escutar o agradável som de um córrego que corria ali perto, e os pássaros
entoavam belos louvores ao Criador. O sapo disse, com uma grande voz de sapo,
bem alto:
- Todos os habitantes, grandes e pequenos, da
floresta! Tragam até mim os objetos mais preciosos, as pedras de valor
inestimável que existem aqui. Tragam também ervas e raízes raras das
profundezas da terra!
Passados poucos minutos, chegaram os pássaros,
assobiando belas melodias e trazendo ervas raras com seus bicos e pezinhos.
Passado mais algum tempo, os gafanhotos e os louva-deus trouxeram pequenas
pedras preciosas, mas de muito valor. Um urso trouxe uma raiz que possuía um brilho
tênue, e que dizem que servia para curar qualquer tipo de doença. As raposas
trouxeram inúmeros presentes, entre pedras preciosas e ervas raras. Os castores
trouxeram um baú com moedas de ouro que haviam achado no fundo do rio. Passado
algum tempo, existia uma pilha desses presentes aos pés de Hanina e sua esposa.
- Isso tudo é para vocês – disse o sapo enquanto
apontava para a pilha de joias, raízes e ervas raras. – Com essas ervas e
raízes vocês poderão ajudar qualquer dos doentes que chegarem a vocês. Eu os
dei esses presentes pois vocês dois trabalharam arduamente para atender os últimos
desejos de seu pai. Cumprir uma promessa feita a alguém que já faleceu é algo
que trás enorme mérito.
Hanina e sua esposa agradeceram profundamente ao
sapo. Estavam muito felizes com todos aqueles presentes, pois poderiam não apenas
cuidar de suas famílias, mas também iriam ajudar os pobres e necessitados
fazendo tsedaká.
- Será que podemos saber quem você realmente é, sr.
Sapo? – perguntou Hanina.
- Sim, podem. Eu sou o filho mágico de Adão e a mim
foi dado o poder de assumir qualquer forma que eu deseje. Preciso ir agora,
adeus, meus amigos!
Depois de dizer isso, o sapo começou a encolher,
até que ficou do tamanho de um sapo comum. Ele foi embora dali pulando, em
direção ao córrego, provavelmente. Hanina e sua esposa nunca mais viram aquele
amigável e amável sapo.
Hanina e sua esposa voltaram pra casa com seus
tesouros. Na cidade em que moravam, eles ficaram muito famosos pela sua
riqueza, sua sabedoria e pela caridade que faziam. Hanina ainda não tinha
filhos, e para ele essa foi a maior benção que o sapo lhe proporcionou. A
esposa de Hanina era estéril, mas após ingerir aquela raiz que o urso havia trago,
ela foi curada. Hanina teve então muitos filhos com sua esposa, eram uma
família muito feliz. Eles viveram com paz e alegria com as pessoas daquela
cidade por muito anos.
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