domingo, 17 de agosto de 2014

O Sapo Mágico

Essa história é baseada no livro “Jewish Fairy Tales and Legends”, da autora Gertrude Landa. Abaixo eu vou recontar essa história a meu modo, baseando-me em diversas ideias do livro acima citado. Quero deixar claro que essa história não é de minha autoria. É uma história muito linda, creio que as crianças vão gostar bastante.

Sapo mágico. Fonte: Google Images
Muito tempo atrás existia um homem que era muito sábio e muito rico. Ele era dono de muitas propriedades na terra em que habitava. Possuía muitos servos e servas, muitos animais além de uma enorme lavoura. Esse homem tinha apenas um filho, e seu nome era Hanina. Hanina era adulto e casado quando essa historia que irei lhes contar se passa.

            Certo dia, o homem rico e sua esposa ficaram bastante doentes. De uma doença muito grave e eles sabiam que logo iriam morrer. Um mensageiro foi até Hanina avisar que seus pais logo morreriam. Hanina deixou tudo o que estava fazendo e foi rapidamente encontrar seus pais. Logo chegou na casa deles e ficou muito triste em ver os dois acamados.

                - Hanina, meu filho! Entre aqui... – disse o pai entre gemidos.
                - Oh, meu pai! Que situação triste... – disse Hanina com os olhos cheios de lágrimas.
                - Meu filho, meu filho. Não se aflija tanto assim. Sua mãe e eu vivemos anos muito agradáveis juntos. Será uma honra pra nós partimos desse mundo juntos...
                - É verdade, meu filho – disse carinhosamente a mãe.
                - Meu filho, - disse o pai – depois que nós morrermos, fique de luto normalmente, fique sete dias de luto. O seu luto por nós acabará na véspera de Pessach! Nesse dia, vá até o Mercado da cidade e compre a primeira coisa que te oferecerem lá. Não importa o que seja e não importa qual seja o preço: compre a primeira coisa que te oferecerem de qualquer forma. Escute atentamente o que eu te digo, meu filho, e tudo irá bem.
               
Hanina prometeu cumprir o estranho pedido de seu pai. Tudo aconteceu como o homem idoso havia previsto: ele e sua esposa faleceram no mesmo dia. Hanina sentou-se em luto por sete dias, e esse acabou na véspera de Pessach. Nesse preciso dia, Hanina foi até o Mercado, ansioso em saber o que lhe aguardava.

Ao chegar ali, foi um homem idoso que primeiro se aproximou dele. Ele carregava uma espécie cesto de prata de formato bastante estranho. Ele se aproximou rapidamente de Hanina e lhe disse:
               
- Meu senhor, eu lhe proponho que compres este cesto!
- Hum, que interessante – disse Hanina – mas o que é que tem dentro dele?
- Meu senhor, eu não faço ideia do que seja, pois eu não o abri. Apenas quem comprar o cesto irá descobrir seu maravilhoso conteúdo.
- E quanto o senhor deseja receber por ele?
- Eu quero mil peças de ouro...

Esse preço era realmente muito caro. Era praticamente todo o dinheiro que Hanina havia levado ao Mercado, e ele só levou essa quantidade de dinheiro porque era muito rico. Não fosse isso, não teria o valor ali. Embora fosse muito caro ele comprou, visava cumprir o voto que fizera ao seu falecido pai. Sabemos que em nossa cultura, cumprir uma promessa feita a um falecido é muito importante! Hanina pegou o cesto e o levou pra casa.

O cesto foi colocado em cima da mesa da refeição de Pessach. Ao ser aberto, observou-se que o cesto continha um cesto menor dentro dele. Ao abrir o cestinho, havia dentro dele um sapo!

A esposa de Hanina ficou muito desapontada. Ela não esperava ter encontrado um simples sapo dentro daquele cesto. Eu acho que ela estava sonhando com colares e brincos de pedras preciosas. Apesar de triste com a descoberta, ela cuidou muito bem do sapo. Deu comida a ele e, embora pequeno, ele devorou tudo gulosamente. Comeu tanta nos oito dias de Matzo que começou a crescer bastante e ficou com um tamanho enorme! Hanina fez até um barracão pra esconder a estranha criatura.
Os dias foram passando e Hanina começou a ficar bastante intrigado. A criatura comia muito, muito mesmo. Parecia ser um saco furado. Hanina continuou a alimenta-lo, sem se abater. Com o tempo, ele começou a ter que vender seus pertences para alimentar o sapo. A fome do anfíbio ficou tão intensa que Hanina teve que vender praticamente tudo, ficando em um estado de lamentável pobreza. Sua esposa então perdeu toda a coragem, ficou muito triste e começou a chorar. E ela levou um enorme susto quando o sapo, agora com a altura de um homem, virou pra ela e disse:

- Me escute, esposa do fiel Hanina – disse o sapo – vocês cuidaram muito bem de mim por todo esse tempo. Então peça-me agora o que você quiser e eu lhe atenderei.
- Dê-me comida – solução a mulher.
- Aí está – disse o sapo. Quando ele acabou de dizer isso, eles escutaram uma batida na porta. Quando chegaram lá, alguém havia deixado uma enorme cesta de deliciosos alimentos pra eles.

Como Hanina ainda não havia dito nada, o sapo foi até ele.
- Diga-me o que desejas, meu senhor, e eu o farei.
- Um sapo que fala e faz proezas deve ser com certeza um sapo muito sábio. Eu desejo que você me ensine a Sabedoria dos Homens – pediu Hanina.

O sapo concordou, mas os métodos didáticos dele eram muito estranhos. Ele pegou 70 pedaços de papel e escreveu a Lei e as 70 línguas conhecidas neles. Ele disse que Hanina deveria engolir esses pedaços de papel e assim foi feito. Magicamente, Hanina se tornou um homem muito sábio. Ele passou a dominar todas as línguas existentes, até mesmo a língua das feras e dos pássaros. Ele ficou conhecido como o ancião mais sábio do seu povo quando se tornou mais idoso.

Passados alguns dias, o sapo disse a Hanina e sua esposa:
- É chegado o dia de eu retribuir a vocês toda a bondade que me fizeram. Peço que vocês me sigam até a floresta. Lá eu lhes darei algo precioso.

Hanina e sua esposa seguiram o sapo até a floresta, intrigados com o que estava por acontecer. Lembraram-se de todos os dias que passaram com o sapo, de quando ele era apenas um sapinho pequenino e de como ele cresceu. Lembraram de como foi difícil no início, de que tiveram que vender praticamente tudo e ficar até mesmo pobres por amor ao sapo. Hanina sorria discretamente, pois mais uma vez percebeu o quanto é bom que um filho obedeça e honre seus pais.

Quando eles chegaram na floresta, depois de terem passado por grandes árvores, pararam numa clareira natural. Era possível escutar o agradável som de um córrego que corria ali perto, e os pássaros entoavam belos louvores ao Criador. O sapo disse, com uma grande voz de sapo, bem alto:

- Todos os habitantes, grandes e pequenos, da floresta! Tragam até mim os objetos mais preciosos, as pedras de valor inestimável que existem aqui. Tragam também ervas e raízes raras das profundezas da terra!

Passados poucos minutos, chegaram os pássaros, assobiando belas melodias e trazendo ervas raras com seus bicos e pezinhos. Passado mais algum tempo, os gafanhotos e os louva-deus trouxeram pequenas pedras preciosas, mas de muito valor. Um urso trouxe uma raiz que possuía um brilho tênue, e que dizem que servia para curar qualquer tipo de doença. As raposas trouxeram inúmeros presentes, entre pedras preciosas e ervas raras. Os castores trouxeram um baú com moedas de ouro que haviam achado no fundo do rio. Passado algum tempo, existia uma pilha desses presentes aos pés de Hanina e sua esposa.

- Isso tudo é para vocês – disse o sapo enquanto apontava para a pilha de joias, raízes e ervas raras. – Com essas ervas e raízes vocês poderão ajudar qualquer dos doentes que chegarem a vocês. Eu os dei esses presentes pois vocês dois trabalharam arduamente para atender os últimos desejos de seu pai. Cumprir uma promessa feita a alguém que já faleceu é algo que trás enorme mérito.

Hanina e sua esposa agradeceram profundamente ao sapo. Estavam muito felizes com todos aqueles presentes, pois poderiam não apenas cuidar de suas famílias, mas também iriam ajudar os pobres e necessitados fazendo tsedaká.

- Será que podemos saber quem você realmente é, sr. Sapo? – perguntou Hanina.
- Sim, podem. Eu sou o filho mágico de Adão e a mim foi dado o poder de assumir qualquer forma que eu deseje. Preciso ir agora, adeus, meus amigos!
Depois de dizer isso, o sapo começou a encolher, até que ficou do tamanho de um sapo comum. Ele foi embora dali pulando, em direção ao córrego, provavelmente. Hanina e sua esposa nunca mais viram aquele amigável e amável sapo.

Hanina e sua esposa voltaram pra casa com seus tesouros. Na cidade em que moravam, eles ficaram muito famosos pela sua riqueza, sua sabedoria e pela caridade que faziam. Hanina ainda não tinha filhos, e para ele essa foi a maior benção que o sapo lhe proporcionou. A esposa de Hanina era estéril, mas após ingerir aquela raiz que o urso havia trago, ela foi curada. Hanina teve então muitos filhos com sua esposa, eram uma família muito feliz. Eles viveram com paz e alegria com as pessoas daquela cidade por muito anos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário